quinta-feira, 17 de maio de 2018

Sporting em Estado de Sitio

Não sinto que tenha de pedir desculpa, porque não fiz nada que considere errado ou com que não esteja de consciência tranquila, mas obviamente que me sinto profundamente triste e envergonhado com o que se passa no meu clube. No entanto há que olhar para estes acontecimentos a vários níveis e por várias perspectivas.

O presidente
Por muito que ele queira relativizar - e sem querer, por falta de provas, insinuar que foi ele o mandante do bárbaro ataque à Academia na passada 3ª-feira - ele é o responsável moral pelo que se passou. Porque pela forma como foi gerindo as situações levou a este clima de terrorismo que se vive dentro do clube e mais especificamente com as claques. A forma como desvalorizou o incidente ainda mais acentuou esta impressão. Não quero apagar o muito de bom que fez pelo clube (aliás espero que parte da sua equipa, principalmente o vice da área financeira Carlos Vieira, continue), mas face ao que disse, não lhe resta outra opção que não sair. Tentou uma fuga para a frente com o pedido de marcação de uma AG, onde não gozando da privacidade de um acto eleitoral e coagidos pelas claques a maioria dos sócios provavelmente se sentiria coagido a não o contestar. Felizmente os órgãos goraram-lhe esse intento com a demissão e o pedido de abertura de um processo disciplinar. Neste momento parece que o pouco discernimento que tinha se esvaneceu completamente e que está de cabeça completamente perdida. De uma forma ou outra eleições são imperativas e prementes, como felizmente parece que irá acontecer. A vida é profundamente irónica e o destino do Bruno de Carvalho será provavelmente ser vítima do apertado regulamento disciplinar que ele próprio fez aprovar. Espero que não seja apenas wishful thinking meu.

Os órgãos sociais
Acredito que há muita gente válida em funções e espero que alguns deles se venham a fazer reeleger em futuras listas. Ressalvo que não quero voltar a ver uma enguia como o Jaime Soares nos órgãos sociais do clube. A forma como disse que o presidente não tinha condições, para depois se calar e fazer as pazes e agora voltar a querer acabar com o reinado do presidente (embora esta seja uma medida positiva para o clube) demonstra que tal como o Bruno de Carvalho está mais preocupado em fazer o que acha que o vai deixar bem na fotografia do que aquilo que acha que é o melhor para o clube. Posso estar enganado, mas esta é a minha leitura dos acontecimentos. Gente dessa não serve ao clube, que deve estar acima de todos os interesses ou projectos pessoais.

O treinador
Estou cansado do JJ, não o nego e já o manifestei. Considero-o inclusivamente o principal culpado pelo descalabro do último domingo, inclusivamente. Só ele é que não viu que o Piccini não estava a ganhar um lance (ofensivo ou defensivo) - presumivelmente porque não estava em condições - que a sacrificar alguém no meio-campo esse nunca poderia ser o William, etc. Demasiados erros para um treinador tão experimentado e com o estatuto dele. No entanto, olhando para o caos em que está o clube e atendendo a que há uma época para preparar, o melhor é dar a próxima época por comprometida e manter o treinador até ao final do contracto. Resta saber se ele quererá continuar.

Os jogadores
Compreendo perfeitamente, pelos momentos traumatizantes que ali passaram, que os jogadores não queiram voltar a Alcochete. Espero que exista alguém em gestão (a MAG?) que lhes garanta que os agressores serão identificados e expurgados do clube e das claques, doa a quem doer. O Sporting é muito maior do que umas dezenas (ou centenas) de energúmenos. Fiquei muito chateado com o jogo de domingo e acho que eles mereciam uma reprimenda verbal, mas NUNCA intimidação e muito menos da maneira que foi. Agora há um jogo para ganhar e merecem o apoio de todos os verdadeiros Sportinguistas.

Os políticos
O Sporting sempre foi um alvo fácil, porque movimenta menos adeptos e porque não é um clube que arraste toda uma região. Além disso quem desdenharia alienar 3.5M para ficar bem na foto perante 8M? Isso ficou provado com a forma como o poder político saiu a terreiro para se manifestar. Perante morte de adeptos, intervenções da polícia com shotguns no final de jogos, agressões a jogadores no centro de estágio ou a árbitros em centros comerciais ou centros de treinos, nunca se ouviu deles uma palavra de condenação. Ouviu-se inclusivamente um titular de um órgão do estado dizer que o grupo culpado pela morte de um adepto não era problema. Fizeram muito bem em falar, mas infelizmente já o deveriam ter feito muito antes. A sua voz perdeu bastante legitimidade, infelizmente. A autoridade também se constrói sabendo falar nos momentos certos, não só quando rende dividendos. Por exemplo, agora o PM vem anunciar a criação de uma entidade para acabar com a violência no desporto. Se nem a legislação mais ligeira e que existe há mais de 10 anos eles conseguiram passar à prática (está em vigor, mas não aplicam as medidas que ali estão identificadas), por que razão pensam que irão agora conseguir colocar em prática legislação mais restritiva? Patético. Mais uma vez, o governo acordou tarde para a vida.

A CS
Vivemos numa época, mais do que de informação, de desinformação. Hoje em dia, é muito difícil filtrar o que é fidedigno do que é mistificação. Os últimos dias mostraram-nos vários exemplos, desde a suspensão do treinador que afinal já não o era à rescisão de patrocínio que afinal nunca sequer foi equacionada (com a agravante de haver um jornal a noticiá-la mesmo depois de um desmentido oficial por parte da própria empresa). Mas já havia inúmeros exemplos anteriores. Vive-se na corrida ao click bait, em que para se ser o primeiro se ignoram regras básicas (e até deontológicas) do jornalismo. Por outro lado, há uma constante procura da polémica, que dá dinheiro mas que vai minando a credibilidade da imprensa. E que a está a matar, embora ela não se aperceba desse seu lento suicídio.

O caso de corrupção
Só ouvi parte das conversas e aquilo pareceram-me gravações "estranhas", mas admito que estava a ouvi-las à procura de incongruências. O facto de estas coisas andarem a ser anunciadas por alguém como o César Boaventura descredibiliza um pouco o processo, mas é esperar para ver o que a justiça apura. Espero que o MP tire isso a limpo e puna quem tiver de punir. Se o Sporting prevaricou (o que muito me entristeceria), que se lhe apliquem os regulamentos e que se o Sporting tiver de descer que desça e que os títulos ganhos irregularmente lhe sejam retirados. Quero ter orgulho e não vergonha nas conquistas do clube.

O MP
Confio no MP e só espero que tenham tranquilidade e capacidade para levar TODAS as investigações até ao fim, doa a quem doer. Tem um trabalho hercúleo pela frente, com muito carvão atirado para as investigações, mas espero que consiga chegar a bom porto e bem depressa. Para bem de todo o clima no nosso desporto.

A sucessão no Sporting
O Sporting tem muita gente boa e credível e de certeza haverão bons candidatos. Esqueçam o Pedro Madeira Rodrigues (fantoche do Pedro Baltazar), o nojento do Carlos Barbosa (presidente do ACP) ou o rato do Ricciardi. Pessoas como Rogério Alves, João Benedito, Sérgio Abrantes Mendes ou até uma nova candidatura do José Couceiro são o tipo de pessoas de que o nosso clube (e diria até o nosso futebol) precisa. Por esse lado estou tranquilo.

Domingo
Acredito que os jogadores vão dar tudo para ganhar a Taça e acabar a época em alta. A minha vontade para ir ao Jamor é reduzida (consegui bilhete por ter prioridade graças ao nº de Gameboxes que adquiri ao longo do anos), mas sinto que neste momento crítico não posso faltar à chamada e por isso lá estarei no Jamor para apoiar o Sporting, que será representado por estes jogadores a quem ficarei eternamente grato pela sua manifestação de profissionalismo ao se apresentarem ao jogo.